Carmen Dolores recebeu Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro
Decorreu, no dia 23 de maio, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de São Luiz, a cerimónia de entrega da Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro, à atriz Carmen Dolores, pelos seus 60 anos de carreira e vida artística de qualidade e consistência, amplamente reconhecidas. Ao ato acorreram várias dezenas de amigos e admiradores da homenageada, incluindo muita gente do Teatro.
Na ocasião, o jovem pianista Diogo Alexandre Simões, aluno da Escola Superior de Música de Lisboa, executou a Sonata para Piano em Lá Menor, K. 310, de Mozart e a atriz Manuela Machado declamou o poema “Amizade”, de Alexandre O’Neill. Carlos Avillez, Jorge Listopad (dois encenadores muito presentes na carreira da homenageada) e a atriz Natália Luiza trouxeram testemunhos sobre a vida e carreira de Carmen Dolores.
Depois de receber a distinção das mãos da vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Catarina Vaz Pinto - que recordou haver esta atribuição sido decidida por unanimidade em sessão camarária no passado mês de abril - Carmen Dolores agradeceu à Câmara e referiu-se ao seu empenho no trabalho em prol da Casa do Artista, onde hoje estão tantos "artistas esquecidos". Falando muitas vezes num registo personalizado, dirigido aos muitos amigos e colegas presentes na homenagem, a grande atriz sublinhou a "importância dos afetos" na sua vida e na sua carreira.
De uma peça publicada ontem no jornal i pelo escritor Fernando Dacosta, reproduzimos, com a devida vénia, o seguinte retrato de Carmen Dolores:
"Figura luminosa na nossa criatividade, no nosso afecto, Carmen Dolores distinguiu-se desde cedo por um talento, uma elegância, uma inteligência, uma sensibilidade, uma plasticidade invulgares. A voz, ex-líbris da identidade que a definiu, tornou-a referência na comunicação em língua portuguesa, ao serviço da grande literatura (sobretudo poesia), que tem divulgado encantatoriamente. No teatro, no cinema, na rádio, na televisão, em recitais, em livros, em conferências, Carmen Dolores transformou a carreira pessoal numa obra de abertura aos outros, de acrescentamento dos outros, ajudando a despertar para a cultura várias gerações de nós, gerações que lhe são para sempre devedoras, adoradoras – “Poesia, Música e Sonho”, o notável programa da antiga Emissora Nacional, ficou para sempre na nossa memória.
Controlando a carreira com milimétrica exigência, Carmen Dolores soube abandonar os palcos em apoteose – na peça “Copenhaga”, superiormente encenada por João Lourenço – mas não o público, que a esse continua ligada pela escrita (fascinantes as suas memórias), pelo convívio (é uma oradora notável), pela disponibilidade de subtilíssimas atenções. A busca da harmonia e da sabedoria, da solidariedade e da criatividade marcou-a indelevelmente, corajosamente – veja-se a sua lucidez nos ímpares Comediantes de Lisboa e Teatro Moderno de Lisboa, por exemplo; veja-se a sua intensidade nas inigualáveis “Espingardas da Mãe Carrar” e “Danças da Morte” (as duas magníficas versões de Jorge Listopad), por exemplo.
Maravilhosa Carmen Dolores!"