Futuro Museu Judaico arranca em Alfama
Os acordos de colaboração que formalizam a constituição do futuro Museu Judaico de Lisboa foram assinados numa cerimónia que decorreu no dia 21 de setembro, no Largo de S. Miguel (Alfama), onde o Museu ficará instalado. Esta cerimónia contou com a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, e dos representantes das entidades parceiras: Vitor Costa, pela Associação de Turismo de Lisboa, Gabriel Steinhardt, pela Comunidade Israelita de Lisboa, Patrick Drahi, pela Fundação Lina e Patrick Drahi, e António Pinto Dias Rocha, pela Associação da Rede de Judiarias de Portugal.
Na ocasião, Fernando Medina considerou que “hoje é um dia grande para quem anda a batalhar neste projeto há tanto tempo, uma velha ambição da Câmara Municipal de Lisboa”. Para o edil lisboeta, este é "um dia histórico porque estamos a dar um passo decisivo para o nosso futuro, pois é a partir do conhecimento que se enfrenta o futuro". O autarca assegurou que o equipamento museológico irá permitir "recordar o que foi a presença culturalmente diversa na nossa história, sem esconder que a presença judaica foi feita de períodos de luz e de trevas", numa alusão aos contributos enriquecedores da comunidade judaica e, depois, às perseguições de que foi alvo pela Inquisição.
O presidente da Câmara não deixou de alertar para o atual debate mundial entre os que defendem uma sociedade aberta e os que propagam a intolerância e o racismo: a este respeito, Medina deixou o exemplo português: Lisboa foi grande quando foi uma cidade aberta e tolerante, capaz de acolher todos, mas nos momentos em que nos fechamos, regredimos; a abertura é essencial para o nosso desenvolvimento, para uma cidade que inova e que só tem futuro se for um espaço aberto". O autarca terminou agradecendo a todos os que tornaram possível este empreendimento, nomeadamente à vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, à ATL - Turismo de Lisboa, pela comparticipação com o Fundo de Desenvolvimento Turístico e, em termos muito personalizados, a Patrick Drahi, pelo "generoso donativo".
A apresentação do que será o Museu Judaico esteve a cargo de Esther Mucznik, que manifestou a sua satisfação por aquele vir a ser instalado no Largo de S. Miguel, onde se localizou a Judiaria de Alfama. O Museu será "um espaço pedagógico, defendendo o pluralismo religioso e cultural, contando a história de 1000 anos dos judeus em Portugal, que tanto contribuíram para a identidade nacional". No mesmo sentido, o atual presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Gabriel Steinhardt, recordou as raízes judaicas de grande parte da população portuguesa, regozijando-se por o futuro Museu vir a revelar "o muito que a Lisboa judaica tem para contar".
Pela Associação da Rede de Judiarias de Portugal (que integra Tomar, Castelo de Vide, Belmonte e Lisboa) usou da palavra António Pinto Dias Rocha, presidente da Câmara Municipal de Belmonte, que vê nesta parceria uma oportunidade de "desenvolvimento económico". Também Vitor Costa, do Turismo de Lisboa, referiu a importância económica de um equipamento como este, por vir potenciar a atratividade da cidade junto dos mercados judaicos espalhados pelo mundo.
Patrick Drahi, cujo donativo viabilizou o projeto, confidenciou motivos pessoais para este apoio, pois é "português e sefardita de origem e as nossas histórias pessoais cruzam-se nesta cidade", de onde a sua família partiu para Gibraltar, Marrocos e França, onde Drahi se encontra radicado. Evocando Fernão de Magalhães como exemplo, ao "abrir portas para um novo mundo", o filantropo olha para esta iniciativa como "um milagre judaico com bênção portuguesa".
Antes da assinatura dos diversos acordos, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, referiu-se a esta realização como "um testemunho da nossa memória judaica" e exemplo de como "Lisboa sabe ser uma bandeira do diálogo".
O Museu Judaico de Lisboa é uma iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, há muito reivindicada pela CIL -Comunidade Israelita de Lisboa e agora desenvolvida em parceria com esta entidade e com a ATL – Associação de Turismo de Lisboa, e com o apoio da Fundação Lina e Patrick Drahi e da Associação da Rede de Judiarias de Portugal. O projeto é da arquiteta Graça Bachmann, com a colaboração dos arquitetos Luís Neuparth e Pedro Cunha. A primeira fase do projeto está orçada em cinco milhões de euros e o Museu deverá abrir portas dentro de um ano.
O legado cultural dos judeus portugueses, que resulta num acervo de testemunhos materiais e imateriais notáveis, constitui um importante contributo para a construção da identidade cultural portuguesa, tanto no território nacional como no mundo, legado esse que deverá ser reconhecido, estudado e preservado, tornando-o acessível aos cidadãos.
O Museu Judaico de Lisboa tem por objetivo estudar e dar a conhecer esse legado e também a sua relação com o restante território nacional e com o mundo. Neste sentido, o Museu Judaico de Lisboa integra o projeto Rotas de Sefarad, uma iniciativa da Rede de Judiarias de Portugal.