Lisboa homenageou o ator Luis Miguel Cintra
A Câmara Municipal de Lisboa, por ocasião da apresentação no Teatro São Luiz da mais recente encenação de Luis Miguel Cintra - "Música", de Frank Wedekind -, homenageou o ator, encenador, tradutor, homem de teatro, de cultura e da cidade, dando o seu nome à Sala Principal do Teatro.
Na ocasião do descerramento da inscrição com o nome do homenageado sobre a principal porta da sala, associaram-se ao ato o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, e a diretora do teatro, Aida Tavares - para além, naturalmente, do próprio Luis Miguel Cintra.
O presidente da autarquia, Fernando Medina, lembrou uma declaração do homenageado, segundo a qual "por cada nova companhia de teatro deviam nascer mil estrelas no céu", para acrescentar que "por cada companhia que persiste e resiste ao tempo deviam nascer novas constelações". O edil lisboeta justificou a homenagem com o seu papel no Teatro da Cornucópia, "o rigor pelos textos e uma nova forma de dizer poesia", bem como pelo facto de a mais recente encenação de Luis Miguel Cintra ser apresentada neste teatro.
O ministro da Cultura, Luís Filipe castro Mendes, destacou ser este "um tributo de reconhecimento a alguém que para a nossa geração e seguintes trouxe uma maneira de fazer teatro e trabalhar a palavra". Agradecendo a homenagem, Luis Miguel Cintra, numa alocução plena de ironia, considerou que "o Teatro S. Luiz é um quadro de honra a que a Câmara me chama". Nesta intervenção, o homenageado não deixou de lembrar o apoio municipal à sua atividade teatral, quando, há alguns anos recentes, o governo lhe retirou os apoios. No final, o agradecimento do artista tomou a forma de leitura de um belíssimo poema de Luísa neto Jorge, do livro "A Lume".
Luis Miguel Cintra nasceu em Madrid em 1949 e iniciou a sua carreira de ator e encenador de teatro no Grupo de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa. Frequentou a Bristol Old Vic Theatre School em Inglaterra. Em 1973 fundou em Lisboa com Jorge Silva Melo o Teatro da Cornucópia que desde então dirige, depois com Cristina Reis, e onde tem encenado e representado textos de todo o reportório teatral e algumas estreias absolutas. A ópera, o cinema e a tradução também fazem parte do riquíssimo trabalho com que tem contribuído para a cultura da cidade e do país.
A presença nas temporadas do São Luiz Teatro Municipal fica marcada por diferentes participações e por encenações muito especiais, seja pela dimensão seja pela forma como se relacionam com a contemporaneidade: em A tragédia de Júlio César (2006), a partir de Shakespeare, olham-se as lutas pelo poder, a vida privada e a responsabilidade pública, de paz e de guerra, de política e de moral, em A Cidade (2010), a partir de Aristófanes, olha-se, com humor, a sociedade, os seus desejos e ímpetos e somos confrontados com um paralelismo de 3000 anos. Em 2014, Íon de Eurípides, que assinala os 40 anos do 25 de Abril, foi um espetáculo que “ [pretendeu] falar dos nossos dias ou do sentimento de crise política do nosso tempo”.