Câmara Municipal de Lisboa lamenta a morte de Celeste Caeiro
Em maio deste ano, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou, por unanimidade, atribuir a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa a Celeste Martins Caeiro, e “realizar uma intervenção evocativa a ser implantada num espaço público de Lisboa, nos termos e em local a designar em conjunto com a família de Celeste Caeiro”.
A proposta, cujo texto reproduzimos, foi subscrita por todos os vereadores:
Celeste Martins Caeiro, no dia 25 de Abril de 1974, manhã cedo, levantou-se para ir trabalhar num restaurante situado na Rua Braancamp. Acabou a distribuir cravos pelos militares revoltosos, num gesto com um extraordinário simbolismo, que viria a projetar a Revolução de Abril em todo o mundo, desde então conhecida como a “Revolução dos Cravos”, que pôs fim ao regime fascista em Portugal. Foi um prenúncio da aliança, determinante na Revolução, entre o povo português e o Movimento das Forças Armadas (MFA).
Segundo a própria Celeste, que teve ocasião de contar a sua história em numerosas entrevistas e visitas a escolas da cidade e do País: “Eu trabalhava num restaurante na Rua Braancamp. A casa fazia um ano nesse dia e os patrões queriam fazer uma festa. O gerente comprou flores para dar às senhoras, enquanto aos cavalheiros se daria um porto. Nesse dia, quando chegámos, o patrão explicou que não ia abrir o restaurante, porque não sabia o que estava a acontecer, e disse-nos para levarmos as flores connosco. Chegámos ao armazém e vimos que eram cravos vermelhos e brancos. Cada um levou um molhe".
A mulher, que viria a ser conhecida como a Celeste dos Cravos, não foi para casa. Apanhou o metro para o Rossio e rumou ao Chiado, onde se deparou imediatamente com veículos militares.
Conta que se aproximou de um dos veículos militares perguntando o que se passava, ao que um militar terá respondido: “Nós vamos para o Carmo para deter o Marcelo Caetano. Isto é uma revolução!”.
O soldado pediu-lhe, ainda, um cigarro, mas Celeste não tinha. Celeste queria comprar-lhes qualquer coisa para comer, mas as lojas estavam todas fechadas. Assim, deu-lhes as únicas coisas que tinha para lhes dar: os molhos de cravos, dizendo: "Se quiser tome, um cravo oferece-se a qualquer pessoa".
O resto da história é por demais conhecida, o soldado aceitou e pôs a flor no cano da espingarda. Celeste foi dando cravos aos soldados que ia encontrando, desde o Chiado até ao pé da Igreja dos Mártires. Ainda, segundo as palavras da Celeste: “Correu tudo muito bem. Tinha de correr, pois os cravos estavam nas espingardas e elas assim não podiam disparar”.
Cinquenta anos decorridos desde a madrugada libertadora iniciada pelo movimento dos capitães, a que o Povo aderiu desde a primeira hora, em unidade com o MFA, que devolveu a liberdade ao povo e iniciou um caminho de profundas transformações na sociedade portuguesa, a cidade de Lisboa deve uma justa homenagem a Celeste Martins Caeiro, acrescenta a proposta.
Em 2014, no 40.º aniversário da revolução dos cravos, Celeste Caeiro contou à Câmara Municipal de Lisboa a história de um dos símbolos do 25 de Abril. Veja o vídeo.