Cultura

Lisboa aprova voto de pesar pela morte de Mísia

Susana Maria Alfonso de Aguiar, nasceu no Porto, em 1955, onde viveu até aos 20 anos de idade, e morreu a 27 de julho, em Lisboa, com 69 anos. A Câmara Municipal de Lisboa, reunida na sessão extraordinária de 31 de julho de 2024, manifestou profundo pesar pelo falecimento de Mísia, expressando à sua família e amigos as mais sentidas condolências.


Passou o início da vida adulta entre Barcelona e Madrid e regressou a Portugal aos 36 anos, estabelecendo-se em Lisboa, determinada a construir um repertório próprio dentro do universo do fado.

Cantando em português, francês, napolitano, catalão e espanhol, soube misturar linguagens musicais e sonoridades distintas, dando uma nova roupagem, plena de modernidade, à música tradicional portuguesa. Em cada concerto, em cada projeto, em cada edição, deixou sempre transparecer a inteligência, a ousadia, o talento e uma capacidade de entrega absolutamente singular.

Ao longo de décadas, Mísia desenhou um percurso riquíssimo pontuado de tournées pelos grandes palcos do Mundo. Em alguns deles, foi a primeira artista portuguesa a atuar, depois de Amália Rodrigues.

Espírito livre e autêntico, nunca necessitou de certificados de legitimidade estética para traçar o seu próprio caminho, inovando no domínio da música tradicional portuguesa, para a elevar e projetar para o futuro, em todo o mundo.

A sua biografia artística foi pontuada por uma colaboração assídua com os maiores escritores e poetas portugueses contemporâneos, assim como pelo diálogo com outras disciplinas artísticas - o cinema, a dança ou o teatro – ou ainda pelas colaborações com Bill T. Jones, Sophie Calle, Isabelle Huppert, Maria de Medeiros, Iggy Pop, Adriana Calcanhotto ou Maria Bethânia.

Em Portugal, foi agraciada com o grau de Comendador da Ordem do Mérito pela Presidência da República e o Prémio Amália Rodrigues na categoria Divulgação Internacional, entre outros prémios e distinções. Em Itália, ganhou o Prémio Carossone e o Prémio de Cinema Gilda. Em França, foi galardoada pela Academia Charles Cros com o Prémio In Honorem (carreira), recebeu a Medaille de Vermeil e foi condecorada com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras de França.

Com o Museu do Fado, realizou inúmeros projetos e vários concertos, tendo tido um papel determinante no reconhecimento do Fado enquanto Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO).

Portugal e a cidade de Lisboa têm, para com Mísia, uma dívida de infinita gratidão.