Lisboa aprova voto de pesar pela morte de Mísia
Passou o início da vida adulta entre Barcelona e Madrid e regressou a Portugal aos 36 anos, estabelecendo-se em Lisboa, determinada a construir um repertório próprio dentro do universo do fado.
Cantando em português, francês, napolitano, catalão e espanhol, soube misturar linguagens musicais e sonoridades distintas, dando uma nova roupagem, plena de modernidade, à música tradicional portuguesa. Em cada concerto, em cada projeto, em cada edição, deixou sempre transparecer a inteligência, a ousadia, o talento e uma capacidade de entrega absolutamente singular.
Ao longo de décadas, Mísia desenhou um percurso riquíssimo pontuado de tournées pelos grandes palcos do Mundo. Em alguns deles, foi a primeira artista portuguesa a atuar, depois de Amália Rodrigues.
Espírito livre e autêntico, nunca necessitou de certificados de legitimidade estética para traçar o seu próprio caminho, inovando no domínio da música tradicional portuguesa, para a elevar e projetar para o futuro, em todo o mundo.
A sua biografia artística foi pontuada por uma colaboração assídua com os maiores escritores e poetas portugueses contemporâneos, assim como pelo diálogo com outras disciplinas artísticas - o cinema, a dança ou o teatro – ou ainda pelas colaborações com Bill T. Jones, Sophie Calle, Isabelle Huppert, Maria de Medeiros, Iggy Pop, Adriana Calcanhotto ou Maria Bethânia.
Em Portugal, foi agraciada com o grau de Comendador da Ordem do Mérito pela Presidência da República e o Prémio Amália Rodrigues na categoria Divulgação Internacional, entre outros prémios e distinções. Em Itália, ganhou o Prémio Carossone e o Prémio de Cinema Gilda. Em França, foi galardoada pela Academia Charles Cros com o Prémio In Honorem (carreira), recebeu a Medaille de Vermeil e foi condecorada com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras de França.
Com o Museu do Fado, realizou inúmeros projetos e vários concertos, tendo tido um papel determinante no reconhecimento do Fado enquanto Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO).
Portugal e a cidade de Lisboa têm, para com Mísia, uma dívida de infinita gratidão.