Município aprova voto de pesar pela morte de Maria da Graça Carmona e Costa
Galerista, colecionadora e promotora de arte contemporânea, mecenas, filantropa. Nos anos 70 do século XX frequentou o primeiro curso de formação de Iniciação à Arte Moderna, promovido pela Sociedade Nacional de Belas Artes.
Maria da Graça Carmona e Costa, já com uma paixão declarada pela artes visuais e plásticas, contactou, a partir da década de 70, com nomes muito relevantes da arte portuguesa como Almada Negreiros, José Augusto-França e o crítico Rui Mário Gonçalves, iniciando nessa altura a sua atividade na Galeria Quadrum, em Lisboa.
Este espaço, integrado nas Galerias Municipais de Lisboa, que completou 50 anos em 2023, representou uma importância assinalável no seu percurso e no panorama da arte contemporânea nacional, associada a artistas como Alberto Carneiro, Álvaro Lapa, Ana Hatherly, Ana Vieira, Ângelo de Sousa, Carlos Nogueira, Eduardo Nery, Ernesto de Sousa, Fernando Calhau, Helena Almeida, Joaquim Rodrigo, Julião Sarmento, Menez, Nadir Afonso, Noronha da Costa, entre outros.
No final da década de 80 fundou o gabinete Giefarte, onde divulgou a obra de artistas e criadores como Ana Vieira, António Palolo, Cristina Ataíde, Helena Almeida, Hugo Canoilas, Ilda David, Jorge Martins, João Vieira, Nikias Skapinakis, Pedro Portugal, Pedro Proença. O acervo de arte da Giefarte integra muitas criações de autores cujo percurso artístico acompanhou, como Álvaro Lapa, Ana Jotta, António Júlio Duarte, Daniel Blaufuks, João Penalva, Jorge Molder, Jorge Queiroz, José Luís Neto ou Pedro Cabrita Reis, representados na sua coleção.
Em 1997, fundou com o marido, Vítor Carmona e Costa, a Fundação Carmona e Costa, instituição representativa do percurso consolidado da sua fundadora, com mais de meio século ao serviço da promoção da arte contemporânea portuguesa, com uma atividade filantrópica permanente e a construção de uma coleção própria com um dos maiores acervos do país. Tem dinamizado iniciativas da arte contemporânea portuguesa, organizado exposições, conferências e edição de livros e catálogos sobre arte.
Em 2000, a Fundação Carmona e Costa iniciou um programa de apoio à arte contemporânea em Portugal, promovendo, a Bolsa Fulbright/Fundação Carmona e Costa e a Bolsa de Estudos destinada a alunos do Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual de Lisboa.
Em 2005, inaugurou um espaço dedicado às artes decorativas, com exposições focadas nas obras de porcelana e faiança colecionadas por Vítor Carmona e Costa ao longo dos anos.
A coleção de arte de Maria da Graça Carmona e Costa continuou a expandir-se, sobretudo no desenho, por si considerado como transversal a todas as disciplinas artísticas. Através da sua coleção, que reflete naturalmente o seu gosto pessoal, é possível apreciar parte significativa da história da arte portuguesa nas últimas décadas.
Artistas, curadores, produtores, designers, instituições culturais, e, por maioria de razão a cidade de Lisboa, beneficiaram, e de alguma maneira continuarão a beneficiar com a sua ação enquanto colecionadora, galerista, mecenas e presidente da fundação por si criada.
Recebeu em 2016 a Medalha Municipal de Mérito Cultural e, em 2018, a Medalha de Mérito Cultural atribuída pelo Ministério da Cultura.
Em 2019, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou a criação do BAC-Banco de Arte Contemporânea Maria da Graça Carmona e Costa, adotando assim o nome da colecionadora, numa homenagem à sua mentora e impulsionadora. Foi concebido para acolher preservar, investigar, estudar e divulgar espólios documentais e artísticos de arte contemporânea de artistas plásticos, de historiadores e de críticos de arte contemporânea, relativos ao período compreendido entre a segunda metade do séc. XX e a atualidade.
O acervo documental do BAC Maria da Graça Carmona e Costa constitui matéria relevante para o estudo da obra dos artistas, nomeadamente dos seus processos criativos, influências e relações com outros atores da cena artística contemporânea, estando em preparação a sua primeira exposição no Atelier-Museu Júlio Pomar/EGEAC em Lisboa.
O legado cultural e artístico de Maria da Graça Carmona e Costa é vasto e será perpetuado no exemplo e na obra que nos deixou, ficando o mundo das artes indubitavelmente mais pobre com a sua morte.