Nova toponímia do Bairro de São João de Brito envolve comunidade local
A oficialização das placas toponímicas, hoje assinalada, vem consagrar ruas já existentes: Rua das Mimosas, Rua do Sol, Travessa do Chafariz, Travessa da Fonte e Rua Trás-os-Montes, e homenagear os nomes de Fernando Silva, David de Almeida, Eduardo Portugal, Arlindo Rodrigues, Maria Teresa Ramalho (Tareka) e Carlos Antero Ferreira. O processo permitiu, não apenas a reorganização das vias, mas também o “reconhecimento da identidade e memória cultural dos moradores, consolidando o bairro no tecido urbano da cidade”.
Este “é um bairro que foi construído com todos aqueles que voltaram para Portugal, em grandes dificuldades, que viram as suas vidas desfeitas", e tiveram aqui "a oportunidade de recomeçar as suas vidas”, recordou Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Ao longo das últimas décadas, o Bairro de São João de Brito tem sido palco de transformações profundas, desde os tempos do pós-25 de Abril – em que o bairro acolheu regressados das ex-colónias e viu nascer uma malha urbana construída de forma espontânea –, até à legalização e loteamento, iniciados em 2020. “Este é o início da história deste bairro, que hoje finalmente tem um novo capítulo”.
Cada rua, afirmou Carlos Moedas, “é testemunha das histórias de superação, de resiliência, de esperança. Estes nomes dão voz à história dos que fizeram este bairro. Nomes que não foram impostos, mas que foram realmente escolhidos por todos", em articulação com a colaboração da Associação de Moradores e da Junta de Freguesia de Alvalade.
Saiba quem são as figuras hoje homenageadas
Arlindo Rodrigues - Ceramista (1928-2012)
Nasceu em Lisboa. Foi uma figura central na cerâmica artística portuguesa do século XX, com formação na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Colaborou com diversos artistas e integrou a cerâmica em projetos arquitetónicos e escultóricos. Os seus murais e instalações públicas evidenciam a sua versatilidade, mostrando a cerâmica como arte decorativa e funcional. A sua obra permanece viva nas exposições que celebram a sua contribuição para a cerâmica portuguesa.
Carlos Antero Ferreira - Arquiteto (1932-2017)
Nasceu em Lisboa. Foi arquiteto, académico, historiador, ensaísta e poeta de destaque no século XX. Licenciado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, teve um papel importante na evolução da Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, onde se tornou professor catedrático em 1991. Presidiu ao Instituto Português do Património Cultural e ao Centro Cultural de Belém. Como arquiteto, trabalhou em projetos importantes, como o Novo Carnaxide e a primeira fase do Plano de Urbanização do Vale de Algés. Contribuiu ainda para o design de mobiliário e para a segurança contra incêndios. A estátua de Santo António, em Alvalade, é uma das suas obras emblemáticas.
David de Almeida - Artista Plástico (1945-2014)
Nasceu em São Pedro do Sul. Foi uma figura essencial nas artes plásticas portuguesas, destacando-se pela sua versatilidade e experimentação nas disciplinas de pintura, gravura e escultura. Formado na Escola António Arroio e na Escola Superior de Belas Artes do Porto, aprofundou os seus estudos em gravura e litografia, com o apoio da Fundação Gulbenkian. A sua obra, caracterizada pelo domínio da luz, sombra, contrastes e texturas, combina figuração e abstração. Explorou também a tapeçaria, sempre em busca de novos meios de expressão. Em 1997, foi Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Eduardo Macedo d'Elvas Portugal - Fotógrafo (1900-1958)
Nasceu em Lisboa. Fotógrafo e colecionador, iniciou a sua atividade fotográfica em 1919 e, em 1925, foi premiado numa Exposição Nacional de Fotografia. Embora nunca tenha sido fotógrafo profissional, dedicou-se a essa arte, documentando um período relevante do desenvolvimento urbanístico de Lisboa, retratando as suas ruas, bairros, edifícios históricos e também momentos do cotidiano. Integrado no Arquivo Municipal de Lisboa em 1991, o espólio de Eduardo Portugal inclui cerca de 30 000 negativos e álbuns, e é considerado uma das maiores coleções fotográficas de Lisboa.
Esmeraldo de Oliveira Cruz - Autarca (1928-2014)
Natural de Lisboa, da freguesia da Graça, aí viveu os primeiros anos da sua vida. Em 1972, passou a residir na antiga freguesia de São João de Brito, atual freguesia de Alvalade, onde permaneceu até à data da sua morte. Após a reforma, aos 54 anos, dedicou-se à vida autárquica, tendo desempenhado funções como presidente da então Junta de Freguesia de São de Brito, de 1986 a 1993. Entre 1994 e 1997 foi eleito para a Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Enquanto autarca, promoveu a melhoria das condições de vida da população da Freguesia de São João de Brito, tendo desenvolvido inúmeras iniciativas de cariz social, empenhando-se na qualificação e legalização das casas do Bairro.
Fernando Silva - Arquiteto (1914-1983)
Nasceu em Lisboa. Formou-se em Arquitetura na Escola de Belas-Artes do Porto. Foi uma das figuras mais influentes da arquitetura moderna portuguesa, deixando um impacto duradouro na paisagem urbana de Lisboa. Foi distinguido com diversos prémios, incluindo quatro Prémios Valmor: o primeiro em 1943, pelo projeto de um edifício na Avenida Sidónio Pais; seguindo-se 1946 e 1952, e o último em 1978, pelo conjunto habitacional Quinta da Luz. Entre as suas obras mais emblemáticas estão o Cinema São Jorge (1950), e o Cinema Império. O seu legado reflete a evolução do modernismo em Portugal.
João Ribas - Músico (1965-2014)
Nasceu em Lisboa. Foi uma figura central do punk rock português, nas bandas Ku de Judas, Censurados e, Tara Perdida. Nas letras das suas canções, abordava questões sociais e políticas, que se tornaram hinos geracionais. A sua ligação a Alvalade, onde viveu, é celebrada num mural no Jardim dos Coruchéus. Morreu prematuramente, aos 48 anos, deixando um legado duradouro que continua a inspirar novas gerações de músicos em Portugal, consolidando-o como um ícone do punk rock português.
Joaquim Maria Fernandes Marques - Autarca (1946-2016)
Nasceu em Guimarães. Licenciado em Direito, exerceu cargos na administração local e central ao longo de mais de quarenta anos. Foi deputado pelo PSD na Assembleia da República durante três legislaturas e integrou dois governos como Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, e do Trabalho. No poder local, presidiu à Junta de Freguesia de São João de Brito, em Lisboa, de 1997 a 2013. Defensor da descentralização administrativa, manteve-se ativo na Assembleia Municipal de Lisboa até à sua morte.
Maria Teresa Guerra Bastos Gonçalves de Morais Sarmento Ramalho (Tareka) - Atriz (1927-2018)
Nasceu em Lisboa. Começou a sua formação artística na dança e desenho, aprendendo com a mestra Raquel Roque Gameiro. Além dos palcos, teve uma carreira literária sob o pseudónimo de Ângela Sarmento, publicando obras como o romance "A Árvore" (1961) e as coletâneas de contos "Os Dias Longos" (1968) e "À Beira da Estrada" (1974). Continuou a sua colaboração familiar em telenovelas e na série "Uma Aventura", onde interpretou personagens criadas pela sua filha, Ana Maria Magalhães. Tinha uma grande paixão pela tauromaquia, defendendo as touradas como parte da tradição cultural portuguesa.