Com sede em Lisboa e dezasseis delegações espalhadas pelo país, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) agrega associados que vão desde pequenos negócios familiares até grandes empresas. Em entrevista, Carlos Moura, presidente da Associação, salienta a importância de “acrescentar valor” ao tecido empresarial, com “uma aposta na inovação, na formação profissional e no reconhecimento de quem investe na cidade”.

Carlos Moura vive e respira Lisboa. À frente da associação que, desde o século XIX, defende a hotelaria, restauração e similares, partilha uma visão apaixonada sobre a cidade e o setor que representa.

Nesta entrevista, conhecemos o papel da AHRESP na valorização dos restaurantes, hotéis e alojamentos locais lisboetas, a relação próxima com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), a celebração da excelência através dos Prémios AHRESP e as ideias para o futuro.

“Na AHRESP sabemos que é preciso uma atenção e um cuidado constante na busca da qualidade para que Lisboa continue a ser um destino reconhecido como de excelência, e que aí se consiga manter.”

AHRESP: O ADN de acrescentar valor

Fundada em 1896, a AHRESP tornou-se a maior associação empresarial do turismo nacional. Este longo percurso histórico moldou a AHRESP com um ADN muito claro: o compromisso de acrescentar valor aos seus associados e às cidades onde atua. “A AHRESP sempre se caracterizou pela diversidade de áreas de apoio que tem ao dispor dos seus associados e pela qualidade do serviço que presta."

Desde programas de qualificação profissional a campanhas de promoção da gastronomia local, a AHRESP trabalha para que o turismo lisboeta seja sinónimo de qualidade e autenticidade. O efeito multiplicador é claro: ao capacitar os empresários e defender condições justas, a associação ajuda a criar empregos mais qualificados, serviços mais eficientes e experiências mais satisfatórias para quem vive e visita Lisboa. E assim, acrescentando valor ao setor, acrescenta-se valor à própria cidade. “Nós não criamos valor, nós acrescentamos valor às empresas e às comunidades onde estamos inseridos.”

É este o ADN que, segundo os próprios dirigentes, norteia a instituição. Além da restauração, a organização representa e apoia 52 atividades económicas, do alojamento turístico ao fast food, dos casinos à animação noturna, passando pela pastelaria, restauração coletiva e diversos formatos de negócios.

Criação de plataformas nacionais dedicadas ao vinho, ao chocolate ou à pastelaria tradicional, bem como o lançamento de um barómetro para medir em tempo real a evolução da restauração no país e apontar tendências e oportunidades de investimento em parceria com universidades e empresas de estudos de mercado.

Essa abrangência explica o crescimento sustentado da associação, que conta hoje com mais de 55 colaboradores a tempo inteiro, e 16 delegações distritais, incluindo a de Lisboa. “Podemos ter um microempresário com apenas um funcionário ou uma grande empresa listada no PSI-20. Essa capilaridade é única em Portugal". É a partir desta estrutura sólida que a AHRESP trabalha diariamente em múltiplas frentes: aplicação de normas de segurança alimentar, formação profissional e projetos de inovação.

Lisboa: cidade inspiradora

No olhar de Carlos Moura, Lisboa é mais do que um destino turístico, é uma comunidade viva.

“Lisboa é uma cidade feita para servir – no melhor sentido da palavra – e para inspirar quem cá vive e quem nos visita”, afirma o presidente da AHRESP, enquanto reflete sobre a vocação hospitaleira enraizada na alma lisboeta.

Essa inspiração sente-se nas colinas históricas, nos mercados da moda, nas tascas centenárias e nos hotéis de design arrojado – uma combinação do tradicional e do contemporâneo que faz da capital portuguesa um caso especial.

Para a AHRESP, o futuro passa por canalizar todo este potencial de forma sustentável e inclusiva. Significa, por um lado, servir bem: garantir que o atendimento nos restaurantes continue afável, que os hotéis ofereçam conforto e segurança. E significa também inspirar: inspirar confiança nos moradores de que o turismo pode trazer qualidade de vida, inspirar os jovens a fazer carreira no setor, inspirar outras cidades com boas práticas.

Como interlocutora principal de restaurantes e hotéis, a AHRESP mantém um diálogo próximo com a CML – uma relação feita de colaborações produtivas. No campo da promoção do destino Lisboa, a colaboração assume formas inovadoras. A associação lançou recentemente ideias para gerir melhor os fluxos de visitantes na cidade, evitando concentrações excessivas em locais e horários de pico.

Outro exemplo dessa colaboração inovadora é o novo Sistema de Retorno de Copos Reutilizáveis em locais de grande afluência noturna, como o Bairro Alto, a Bica e o Cais do Sodré, a CML instalou – com o apoio da AHRESP – 17 máquinas automáticas de recolha de copos reutilizáveis. Os utilizadores podem devolver os copos nestas máquinas e reaver, de forma rápida e prática, o valor do depósito pago. Em seguida, os recipientes são higienizados e colocados de novo em circulação nos estabelecimentos aderentes, promovendo um ciclo sustentável de reutilização. Esta iniciativa pioneira reduz drasticamente os copos descartáveis abandonados na via pública, alinha os eventos urbanos com os princípios da economia circular e afirma-se como um exemplo de sustentabilidade urbana em espaços de lazer.

Em colaboração com a Startup Lisboa através do programa de aceleração From Start-to-Table, dirigido a startups ligadas à área da restauração e desenvolvimento da comunidade de foodtech, Carlos Moura menciona que “Lisboa tem uma projeção internacional única. É a partir daqui que conseguimos mostrar ao mundo o melhor da nossa gastronomia, da nossa hotelaria e da nossa hospitalidade. Queremos envolver a comunidade, as microempresas a os grandes grupos, para Lisboa crescer em conjunto com este ecossistema.”

É nesta relação de parceria que Carlos Moura aposta: Câmara e AHRESP, juntas, podem fazer de Lisboa um caso exemplar de equilíbrio entre sucesso turístico e qualidade de vida local.

Outra prioridade na visão de futuro da AHRESP para Lisboa é manter o fator humano no centro. “O setor enfrenta o grande desafio de atrair e reter talentos; para isso, temos de dignificar as carreiras na hotelaria e restauração”. Significa melhorar condições de trabalho e promover formação. Acreditando que por trás de cada experiência turística bem-sucedida há pessoas dedicadas.

A AHRESP, em sintonia com a CML, quer consolidar um modelo em que o crescimento ande de mãos dadas com a qualidade de vida. Eventos culturais e gastronómicos de bairro, apoiados pela AHRESP e pelo município, prometem animar a cidade todo o ano.

Também na promoção da gastronomia de excelência, destaca-se o concurso “Lisboa à Prova”, uma iniciativa conjunta da CML e da AHRESP que todos os anos premeia os melhores restaurantes da cidade. Na edição mais recente, cerca de 140 restaurantes lisboetas foram distinguidos com os emblemáticos “Garfos”, numa celebração da qualidade e diversidade da gastronomia local. Ao reconhecer publicamente os estabelecimentos de topo – das tascas tradicionais aos restaurantes de autor – este concurso estimula a inovação e a melhoria contínua, reforçando o prestígio de Lisboa como destino gastronómico de referência.

Iniciativas como as “Lojas com História” ganham uma nova dimensão: para além de preservar fachadas e interiores antigos, pretende-se preservar a alma do negócio, o saber-fazer tradicional. Tudo isso inspira uma cidade mais autêntica e resiliente.

Prémios AHRESP: celebrar as melhores práticas

Há quase uma década, a AHRESP decidiu criar um galardão próprio para destacar a inovação e as melhores práticas no setor. Nasceram assim os Prémios AHRESP, cuja nona edição decorre este ano.

A AHRESP sublinha que, tanto empresas familiares de um só trabalhador, como grandes grupos empresariais são essenciais para a riqueza do tecido turístico e gastronómico. O prémio procura justamente distinguir esse mérito, “porque não há turismo sem boa cama, bom restaurante e, sobretudo, um serviço de qualidade para quem nos visita”.

Desde o rigor no cumprimento de normas de saúde pública até à criatividade nos menus, passando pela promoção da sustentabilidade e do serviço de excelência: “Apoiamos a inovação e a formação como caminhos para evoluir neste setor tão dinâmico.”

A par das categorias que vão a votação pública, existem distinções, como a Personalidade do Ano ou o Prémio Carreira, agora batizado em honra do comendador Mário Pereira Gonçalves. Durante quatro décadas, destacou-se pelo seu contributo no turismo nacional. A importância desse contributo foi também reconhecida pela cidade de Lisboa.

Em outubro de 2022, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou a título póstumo o comendador Mário Pereira Gonçalves com a Medalha Municipal de Mérito Comercial, sublinhando o seu papel ímpar no desenvolvimento do turismo e do comércio na capital. A distinção honorífica, recebida em nome do homenageado pela sua família, celebrou o legado de quem liderou a AHRESP de 1983 a 2022 e deixou uma marca indelével no setor.

Para a AHRESP, o melhor caminho resume-se numa frase: acrescentar valor. Seja ao promover boas práticas, seja ao reconhecer o esforço de cada profissional, a associação acredita que só assim se constrói a imagem de Lisboa como uma cidade acolhedora e inovadora.

A valorização do setor

A valorização do setor está muito presente nos Prémios AHRESP. Os prémios têm um duplo objetivo: dar visibilidade ao trabalho e ao esforço dos profissionais do setor e a adoção de boas práticas ambientais e sociais sempre na dinâmica da inovação: “Estes prémios são, ao mesmo tempo, um reconhecimento e um estímulo para o setor. Queremos dar palco a projetos e empresas que fazem a diferença, para que, cada vez mais, tenhamos uma restauração e uma hotelaria de excelência”.

última atualização: 16.05.2025