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A Associação de Moradores Viver Melhor, no Beato, foi a base de trabalho de uma equipa com 30 voluntários, entre fotógrafos profissionais, editores, pós-produção, cabeleireiras e maquilhadoras, que se dividiram pelas salas que diariamente recebem idosos e crianças, e as transformaram, por um dia, em dois estúdios de fotografia, uma sala de pós-produção, um salão de beleza e ponto de encontro dos moradores deste bairro.

Entre a azáfama que se vivia entre os corredores e os estúdios, a coordenadora, Amandine Bouillet, sentia o orgulho da sua associação ter sido a escolhida este ano pelo Help-Portrait.

Uma associação que existe desde 2011 e que, em 2019, conseguiu um espaço social que começou por ter vários serviços dirigidos aos mais idosos e atualmente tem uma atividade mais alargada a toda a comunidade. Com a ajuda de três técnicas, Amandine Bouillet explica que tem também a funcionar um ATL dirigido às crianças e um projeto recente com um grupo de jovens. São 82 os utentes inscritos, com 56 crianças inscritas neste verão, e 26 jovens. A associação tem também uma bolsa de serviços, incluindo ir a casa dos utentes - especialmente os mais idosos - fazer pequenos arranjos.

A Missão do Help-Portrait

Tarcísio Pontes, fundador e coordenador do Help-Portrait Lisboa, confessa que todos os anos espera pelo dia 2 de dezembro. O dia em que ele e a sua equipa retribuem o que mais gostam de fazer: trabalhar a fotografia. Aquele momento em que a felicidade fica gravada para sempre numa moldura.

"Desde 2011 que reúno um grupo de amigos e todos os anos vamos a uma comunidade fazer um convívio à volta da fotografia”. A verdadeira missão desta iniciativa, “não é tirar, mas dar fotografias a quem este bem não é completamente acessível e proporcionar assim uma alegria natalícia", sublinha com entusiamo Tarcísio durante a nossa conversa, muito breve, porque o estúdio aguarda a sua presença.

A entrega da moldura à família

O momento mais aguardado

E ninguém falta à fotografia. Aliás, as famílias têm a sua hora agendada, mas chegam mais cedo para conviver. Na sala de espera improvisada, as crianças fazem o seu Natal e mostram aos seus amigos, com uma certa vaidade que caracteriza estas idades, que a sua camisola natalícia é igual à do seu pai.

A primeira família que recebe a moldura, diz-nos que “é muito bom existirem estas iniciativas e que não é apenas pela sessão fotográfica, mas pelo ambiente que se vive aqui", e acrescenta: "os bairros de Lisboa vivem muito do convívio, todos nos conhecemos, somos uma família".

Esta essência do que é a vida no bairro, é como um código de conduta que os moradores respeitam e que cria um sentimento de pertença entre todos os que ali moram.

Por isso, o dia 2 de dezembro é tão especial para todos, para aqueles que dão e os que recebem. E este ano não foi exceção: o bairro do Beato uniu-se à volta da fotografia. 

A recordação que o Help-Portrait proporciona neste dia fica registada, não só na moldura, mas, sobretudo, na autoestima de quem participa. 

A equipa de voluntários

A equipa Help-Portrait Lisboa parece uma orquestra. Todos estão devidamente alinhados e sabem o seu tempo de entrar na música. Há uma sensibilidade que aproxima e cria empatia com quem vai estar em frente a uma lente que pode causar desconforto.  A equipa está atenta e sabe como agir para que esse desconforto seja esquecido nos primeiros segundos.

O ritmo de trabalho e coordenação é intenso para cumprir o objetivo de entregar, ao final do dia, as vinte e quatro molduras. E o registo da entrega não se explica, sente-se. Os olhos brilham e aqueles minutos tornam-se intemporais.

“Senti-me muito feliz durante este dia, a última vez que me fotografaram foi no meu casamento”

Mesmo com o tempo cronometrado, há sessões fotográficas que justificam uns minutos extra para ouvir. E o fotógrafo que recebeu a D. Ana no estúdio percebeu de imediato que devia usar estes minutos. São 92 anos de muita vida, de muitas histórias e de uma alegria que contagia.

Assim foi a sessão fotográfica da D. Ana que, antes de ir embora, convida todos os voluntários para a sua festa de aniversário.

O seu rosto, não revela o que foi a sua vida. Pertence à geração que veio para Lisboa nos anos 70 para escapar à pobreza das aldeias, na promessa que a cidade sabia receber e cuidar. É na Associação, e nos seus vizinhos, que encontra o afeto que não recebeu na sua aldeia.

Sobre o Help-Portrait

O fotógrafo norte-americano de elite, Jeremy Cowart, fundou, em 2009, o Help-Portrait, uma organização sem fins lucrativos, com o objetivo de retribuir à comunidade o seu talento enquanto retratista. Em pouco tempo, a ideia transformou-se num movimento internacional.

Da Índia ao Gana, da África do Sul à Rússia, passando por Portugal, o Help-Portrait não encontra fronteiras nem barreiras culturais.

Dezembro / 2023