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Conferência destaca Lisboa como referência na sustentabilidade urbana

O papel das cidades como centro das transformações globais, os desafios urgentes e as oportunidades para um futuro sustentável, foram temas da conferência “Lisboa, uma cidade para todos”. A cidade tem de ir “para além das suas funções”, na saúde, na habitação, na área das pessoas em situação de sem-abrigo ou da segurança", afirmou Carlos Moedas. “Hoje, não temos outro caminho”.


Na sessão de abertura da conferência – organizada pelo Correio da Manhã, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa (CML) –, o presidente da autarquia defendeu a ideia de “uma cidade que é feita para todos”, como fator de fortalecimento do papel das cidades: “Na geopolítica do mundo, nós vemos a força das cidades e vemos o enfraquecer dos países, exatamente porque estamos a ir a nível nacional para esse tipo de política. E essa ideia da cidade, que é feita para todos, é uma ideia de moderação”.

Na saúde, com o programa Lisboa 65+, que permite o acesso das pessoas com mais de 65 anos a um plano de saúde, “estamos a ir para além das nossas funções. Não estamos a querer substituir ninguém”, vincou Carlos Moedas, mas “a cidade tem que ajudar”, com um plano “que hoje tem mais de 15 mil idosos com acesso a um médico”.

As pessoas em situação de sem-abrigo, foi outro tema abordado por Carlos Moedas, que salientou o investimento de “70 milhões durante sete anos”, como “uma visão política que deve unir todos”, e que permitiu, “no último ano”, retirar "mais de 200 pessoas que estavam a viver em tendas e dar-lhes um teto”.

O “desafio da habitação para uma cidade como Lisboa tornou-se central durante estes anos”, disse o autarca, “quando as rendas aumentaram três vezes mais do que o rendimento das famílias de Lisboa”.

Nos últimos anos, afirmou, Lisboa recuperou 1 800 casas nos bairros municipais, e construiu 600, ajudando ainda 1 000 famílias a pagar a renda. “Tudo isto é a base (…) é nisto que nós investimos: Habitação, saúde, pessoas em situação de sem-abrigo”.

O “caminho para Lisboa (…) tem como base esta área social, mas tem que ser um caminho da inovação e da cultura”, acrescentou. “Temos hoje em Lisboa 14 unicórnios, ou seja, 14 empresas de mais de mil milhões de euros, que trouxeram mais 70 empresas tecnológicas e 16 mil oportunidades de trabalho e emprego para Lisboa”. A inovação “é a única maneira de nós criarmos riqueza”, concluiu Carlos Moedas.

1 100 toneladas de resíduos produzidas diariamente em Lisboa

Mais de 900 toneladas de resíduos urbanos são produzidos por dia em Lisboa, a que acrescem 200 toneladas de resíduos não urbanos, como “os veículos em fim de vida, ou os chamados resíduos de construção e demolição”, afirmou o diretor municipal da Higiene Urbana. “Muitas vezes até são abandonados, o que é ainda mais grave, porque nos traz mais esforço que já não é planeado, tem de ser sempre em reação”, assinalou Fernando Moutinho.

O que pedimos às pessoas, acrescentou, é que “sejam parte da solução”, respeitando os horários de deposição, e a separação. “Nós temos de ganhar as pessoas para perceberem que o lixo não termina quando o colocam na rua. Elas são parte da solução e quando o depositam na rua devem fazê-lo da maneira como nós pedimos que se faça”.

Com o reforço recente de 400 trabalhadores para a higiene urbana e a renovação da frota, acentuou por seu lado Carlos Moedas, a cidade conseguiu recolher mais de 9 000 toneladas de lixo, e reciclar mais de 2 500 toneladas, relativamente ao ano anterior.

Prioridade ao transporte público

No painel dedicado à mobilidade e qualidade de vida, Filipe Anacoreta Correia, vereador da Mobilidade, considerou o transporte público como uma das grandes apostas da CML. A oferta de transporte público “pode representar efetivamente uma boa alternativa às soluções de mobilidade individuais, com ganhos de tempo, de economia e sustentabilidade”.

Numa cidade em que as dormidas representaram mais de 8 milhões de pessoas no ano passado, com 370 mil carros e mais de um milhão de pessoas por dia neste movimento pendular, tem de haver várias soluções de mobilidade, sublinhou Anacoreta Correia.

Uma das prioridades, “claramente foi o transporte público”, disse, com uma grande aposta na Carris, nos passes gratuitos, que beneficiam mais de 100 mil pessoas entre os jovens e os mais velhos. De acordo com os dados, “cerca de metade são pessoas novas no sistema, ou seja uma medida que efetivamente impulsionou a adesão aos transportes públicos”.

A intervenção na Lisboa esquecida

No painel dedicado aos desafios e oportunidades de Lisboa enquanto cidade sustentável, Joana Almeida, vereadora do Urbanismo, deu conta dos projetos no espaço público, na “lógica da cidade para todos”, destacando a nova Av. Almirante Reis – que recebeu 2 500 propostas da participação pública –, desde o Martim Moniz até ao Areeiro, cuja ideia “é desenhar um perfil totalmente novo”, o Vale de Santo António, com uma oferta de habitação estimada em 2 400 casas e um grande parque verde, ou a alteração do plano de pormenor do Parque Mayer, cuja proposta estará em breve em discussão pública.

Na lógica da cidade para todos, referiu, “fomos para zonas que eu diria que são Lisboa esquecida”, como a zona norte da cidade, e estamos a construir a via estruturante Santa Clara, que “permite que todos aqueles bairros mais isolados e sem ligação com o resto da cidade se reestruturem. Também quisemos intervir nesta cidade esquecida”, concluiu Joana Almeida.

Vídeo integral da conferência aqui